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“Só faz de conta que a política não interessa, quem manda! E Deus sabe que a política interessa muito. O problema é que esse interesse político é disfarçado e só se manifesta em câmaras secretas, em jantares para os quais nós, o povo, não somos convidados.”

A afirmação foi feita, há décadas, pela professora Maria da Conceição Tavares, uma das mais brilhantes economistas do Brasil, que deu aula para gente muito influente. Fernando Henrique e José Serra, por exemplo.

E cito a Conceição, primeiro, porque ela nos deixou há poucos dias e quero homenageá-la.  Mas, também, porque o que ela disse está mais atual do que nunca.

Há poucos dias, um jantar em São Paulo reuniu alguns dos homens mais ricos do país, políticos de direita e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Vejam: um jantar, um mero jantar…

Mas ali estava a tal “câmara secreta” e o tal “interesse político disfarçado” a que se referia Conceição Tavares.

Ali estavam os endinheirados “homenageando” justamente o principal responsável pela taxa de juros absurda do Brasil.

Senhores! Nossa inflação é de 4%, mas nossa taxa de juros é de 10.50%!

Simplesmente, não há o que justifique isso!

Ou há? Ou é o tal “interesse” denunciado pela professora Conceição?

Quem ganha com esse juro? A indústria? Não! O comércio? Não! A produção? Não! Quem mais ganha são os bancos, os especuladores, o rentismo!

A desculpa “técnica” para manter uma Taxa Selic estratosférica é que isso controlaria a inflação. Mentira!

A verdade parece estar muito mais na reflexão de outro professor – e que já foi até ministro da Fazenda do Brasil – o Luiz Carlos Bresser- Pereira: “O Banco Central foi capturado pelos interesses do sistema financeiro, do rentismo.”

Vejam! É um ex-ministro da Fazenda afirmando que quem define a taxa de juros no Brasil é refém do rentismo. Ou seja, a taxa de juros do Brasil vem sendo definida por quem ganha se ela estiver alta.

Para Bresser, isso tem nome: é corrupção.

Então, existe, sim, vida inteligente a nos chamar a atenção para sinais que devem pôr em dúvida a integridade e a transparência do processo de definição da Taxa Selic.

O jantar de São Paulo foi um desses sinais e fez o Subprocurador -Geral do Tribunal de Contas da União, Lucas Furtado, pedir uma investigação sobre uma possível manipulação da Taxa Selic em favor dos que são por ela beneficiados.

Diz Furtado: “Ora, se a taxa de juros básica que conduzirá relações financeiras no país é definida levando em consideração previsões dos próprios agentes que irão reger tais relações, vejo que se pode estar diante de uma gama de possibilidades de manipulação de índices por essas instituições.”

E, neste caso, prossegue o procurador “se pode estar diante de fatos que podem comprovar que a definição da taxa básica de juros do país em níveis estratosféricos não possui o efeito de controlar a inflação, mas sim o de quebrar o país, enriquecendo alguns aplicadores do mercado”.

Ao fim e ao cabo, é disso que se trata: do risco de esta taxa de juros altíssima – defendida por Campos Neto e por seus amigos da direita política – acabar quebrando o Brasil.

Publicado anteriormente em Brasil 247, Revista Fórum e PT na Câmara

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